domingo, 31 de agosto de 2008

O crocodilo, filho de carpinteiro

Os filhos de carpinteiros são revolucionários à centenas de anos, mas existe um na nossa contemporaneidade que é a antítese dessa esperança revolucionária, trata-se de um ditador sanguinário e chama-se Robert Mugabe, o "Crocodilo" que oprime o Zimbabwe.

Este trocidário silencioso destruiu um País em menos de duas décadas, transformou num Inferno um País que tem tudo para ser um Paraíso. Aquando da independência, em 1980, Mugabe herdou um sofisticado e bem infra-estruturado País, onde a classe média negra cresceu rapidamente. Mas esse cenário faz parte do passado. Hoje em dia os zimbabweanos são as pessoas mais tristes do Mundo. A sua economia tem quase metade da riqueza criada há 10 anos. A taxa de desemprego é superior a 80 por cento. Cerca de metade de todos os zimbabueanos são dependentes de ajuda alimentar externa. Cerca de 20 por cento da população está infectada com o HIV/SIDA. O Zimbabwe hoje tem a esperança de vida mais curta do Mundo - 36 anos (quando era de idade 62 em 1990). Como resultado, o País já tem a percentagem mais elevada de órfãos do planeta.

Apesar de tudo isto Mugabe, ajudado pelo pedastra que está a sair da presidência da África do Sul, continua a respirar na savana do Zimbabwe.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mini-vacas: a solução para o aumento do preço dos produtos alimentares

Tem um pequeno pedaço de relva à frente (ou atrás) da sua casa? Já se deu conta que o preço do leite e a carne vermelha já aumentaram este ano cerca de 30%? Se sim, então tem uma solução perfeita ao seu dispor, através de uma raça de mini-vacas de origem irlandesa.

Nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido já são um sucesso. E percebe-se porquê, só têm vantagens. Dão leite, aproximadamente com dois anos podem ser abatidas para consumo da carne e, "last but not the least", alimentam-se praticamente só de relva, o que proporciona dispersar-se de ter custos com o jardineiro ou de ter dores nas costas.

Acresce que estas mini-vacas são animais dóceis e "simpáticos", pelo que não será de esperar muito até que sejam adoptadas como animais de estimação (se assim for perde-se, em princípio, o benefício da carne produzida organicamente). Os cães, os gatos, os porquinhos da Índia e outros que tais foram adoptados e não proporcionam um décimo dos benefícios.

Os "master puppets" dos tempos modernos

O conceito de espaço alterou-se profundamente a partir do final do séc. XIX e acelerou para um ritmo de ficção científica a partir da segunda metade do séc. XX. na base dessa transformação está a evolução dos meios de transporte, que alteraram a forma de medir o espaço das tradicionais medidas métricas para a medição pelo tempo. Hoje ir do Porto a Lisboa não são 300 km, mas sim duas horas através da A1.

De entre todos meios de transporte o automóvel continua a ser o mais democrático e com maior sucesso junto dos utilizadores. E com esse sucesso o tráfego adensa-se, apesar da cavalgada meteórica dos preços dos combustíveis. Nesta "metropolis" de Fritz Lang em que vivemos, existem uns "master puppets" que ignoramos, mas que são isso mesmo mestres que nos manuseiam no dia-a-dia. Falo dos engenheiros de tráfego.

Alguma vez pensaram na existência desta profissão (tirando aqueles que o são e os rodeiam)? Muito dificilmente conseguimos nomear um desses engenheiros (a título de curiosidade deixo dois para ilustração: o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, Nuno Cardoso, e o actual presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad), contudo são eles que nos fazem permanentemente parar, avançar, acelerar, abrandar, comportando-nos nós como seguidores hipnotizados pelos seus esquemas entrelaçados de gestão do tráfego.

E neste caso não vale a pena rebelar-nos. Aliás nem sequer nos passa pela cabeça tal tonteria. Todavia, não seria pior sermos mais exigentes na nossa crítica aos esquemas ardilosos que nos montam. Ou seja, a maior parte das regras de trânsito são imbecis, logo o comportamento dos automobilistas é esmagadoramente imbecil (por que raio é que existe um sinal a indicar que existe uma passagem de nível, quando ela é perfeitamente visível?!). Desta forma, estou e crer que a responsabilização dos condutores aumentaria se os passassem a tratar com maior inteligência, que os pusessem a raciocinar na estrada em vez de os conduzirem como se de uma manada se tratasse.

Contudo, no pior dos cenários (e eventualmente o mais real) a situação seria ainda mais caótica, pois o exercício da cidadania e o raciocínio lógico são bens escassos, como tão bem interpretou Nietzsche. Assim sendo, não será pior continuarmos silenciosos nos nossos casulos automobilizados, ignorando sabiamente que todo o fluxo de trânsito é orientado pelos senhores engenheiros.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Malthus revisitado

A população mundial continua a crescer, mas de uma forma desigual. Do lado dos países que vêm a sua taxa de natalidade a cair para valores abaixo dos 2,1 filhos por casal, que garante a substituição geracional, encontram-se não só o Ocidente como o Extremo Oriente; enquanto que África, Índia e o Médio Oriente continuam a ser os contribuintes líquidos para o aumento populacional.

De acordo com o "British Medical Journal" esta evolução diferenciada está correcta. Terão de ser os países mais desenvolvidos a abrandar o ritmo de crescimento demográfico, na medida que um bebé Português contribui incomensuravelmente mais para o aquecimento global do Planeta do que um bebé do Burkina Faso.

Trata-se assim de uma revisitação Malthusiana ao contrário, onde a moral do pensador britânico aconselhava os mais pobres a não procriar, enquanto que agora sob a égide do pensamento do crescimento sustentado se aconselha os mais ricos a serem mais moderados.

Seguramente que esta tese britânica esquece-se dos conflitos civilizacionais gerados pelas migrações e das pressões populacionais sobre a oferta dos bens alimentares e da água potável. Pelo sim pelo não, não será pior os países ocidentais começarem a aproximar-se dos míticos 2,1 filhos por casal, pois no Sul da Europa esses valores já se aproximam rapidamente do valor unitário.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A China no centro do Mundo

Os Jogos Olímpicos aproximam-se do fim e a grande marca que fica é a elegia sem fim à China Moderna. Aos desafios cumpridos, como imagem de um país que se realiza na modernidade. Mas há quem vá mais longe e reconheça na China milenar o Império que deu o essencial à Civilização Ocidental!

No "best-seller" internacional "1421" o norte-americano Gavin Menzies argumenta que uma enorme frota chinesa comandada por Zheng He procedeu à circunavegação do mundo antes de Fernão Magalhães e descobriu a América antes de Colombo. As provas para estes eventos revestem-se de muitas formas: dos espólios de naufrágios e mapas antigos, aos povos locais e à sua identidade ADN.

No sucedâneo "1434", Gavin Menzies volta à carga na sua reavaliação da história, apresentando novas provas sobre o Renascimento Europeu, detectando as suas raízes na China, com a chegada de embaixadores oficiais do Imperador Chinês à Toscana, em 1434, onde se reuniu com o Papa Eugénio IV, em Florença. A delegação apresentou-se ao Papa com uma riqueza de conhecimentos desde a Geografia (incluindo mapas mundo que o autor considera que chegaram á posse de Colombo) à Astronomia, Matemática, Arte, Impressão, Arquitectura, fabricação de aço, engenharia civil , armamento militar, levantamentos topográficos, cartografia, genética, e muito mais. Estes conhecimentos sacudiram a inventividade do Renascimento, incluindo as criações da mecânica de Da Vinci, a revolução copernicianas e as descobertas de Galileu.

A partir de 1434 em diante, os Europeus abraçaram as ideias Chinesas, as sua descobertas, invenções e floresceram. A China é assim, no entendimento de Menzies, um pilar basilar da Civilização Europeia, tal como a Filosofia Grega e o Direito Romano.

Comparação entre a embarcação de Zheng He e a de Colombo

Rússia: o "Petroestado" do séc. XIX

Vladimir Putin está seguramente orgulhoso da criação do "Petroestado" Rússia, onde o petróleo e o gás são estrategicamente usados para punir, recompensar e ameaçar. Desta forma, a combinação de Vladimir Putin e das suas reformas institucionais ("czarização"), da vertiginosa subida do preço do petróleo e do gás, permitiu à Rússia recuperar o estatuto de potência mundial. Sendo que Putin tem aproveitado esse poder para colocá-lo ao serviço de um nacionalismo agressivo. Assim, se por um lado temos a China a pregar e a praticar a doutrina do "crescimento pacífico", evitando confrontos no estrangeiro, de modo a concentrar-se no seu desenvolvimento doméstico, a Rússia actua cada vez mais como uma potência expansionista ao estilo do séc. XIX.

E a partir daqui chegamos ao actual conflito aberto entre a Rússia e a Geórgia. Uma guerra aguardada há muito e que se tornou inevitável desde a declaração de independência do Kosovo. Ou seja, Putin tentou durante anos evitar a declaração da independência do Kosovo da Sérvia, assim, quando os kosovares no passado mês de Fevereiro se anteciparam, com o forte apoio norte-americano e europeu, a Rússia de Putin pôs em marcha a sua estratégia expansionista. Primeiro passo: fez aprovar na Duma o reconhecimento do direito à independência por parte da Abcásia, da Ossétia do Sul e da Transnístria (uma república pró-russa separatista da Moldávia), argumentando Moscovo que a lógica do Ocidente em relação ao Kosovo, também deve ser aplicável a estas comunidades étnicas que se tentam libertar do controlo de um Estado hostil (sic).

E chegamos à guerra. Os historiadores eventualmente virão para registar o dia 8 de Agosto de 2008 como um ponto de viragem não menos importantes do que o 9 de Novembro de 1989, quando o Muro de Berlim caiu. O ataque da Rússia à soberania do território georgiano marcou o regresso oficial da história ao séc. XIX, ao estilo das grandes potências, complementado por nacionalismos virulentos, onde se batalhava pelos recursos, por esferas de influência e por território e até mesmo o uso do poder militar para obter objectivos geopolíticos.

A fronteira entre a Geórgia e a Rússia tem sido um pasto seco, onde a única questão que restava era a de saber onde e quando o fogo teria início. A história da Geórgia é um registo contínuo de submissão ao superior poder russo. Ameaçada pela expansão do império persa, em 1783 os georgianos aceitaram formalmente a protecção da Rússia, que terminou em 1801 com a anexação efectiva. No caos da Revolução Russa a Geórgia conseguiu recuperar a sua soberania. Os georgianos eram "Mensheviks" - sociais-democratas, na verdade - e por três anos beneficiou de um dos governos mais progressistas do mundo. O governo "Bolchevique" deixou-o viver durante três anos. Durante o longo período soviético a Geórgia funcionou como uma Riviera italiana para a Rússia, onde as elites tinham a sua amada "dacha" na costa do mar Negro da Abcásia. Ao mesmo tempo, Estaline, embora ele próprio georgiano, não absteve a Geórgia das sua purgas.

É verdade que iremos continuar a ter a globalização, a interdependência económica, a União Europeia e outros esforços de construção de uma mais perfeita ordem internacional, mas esta realidade vai competir cada vez mais com as "Rússias" dos nossos tempos e, por vezes, ser esmagada pela dura realidade da vida internacional.