E a partir daqui chegamos ao actual conflito aberto entre a Rússia e a Geórgia. Uma guerra aguardada há muito e que se tornou inevitável desde a declaração de independência do Kosovo. Ou seja, Putin tentou durante anos evitar a declaração da independência do Kosovo da Sérvia, assim, quando os kosovares no passado mês de Fevereiro se anteciparam, com o forte apoio norte-americano e europeu, a Rússia de Putin pôs em marcha a sua estratégia expansionista. Primeiro passo: fez aprovar na Duma o reconhecimento do direito à independência por parte da Abcásia, da Ossétia do Sul e da Transnístria (uma república pró-russa separatista da Moldávia), argumentando Moscovo que a lógica do Ocidente em relação ao Kosovo, também deve ser aplicável a estas comunidades étnicas que se tentam libertar do controlo de um Estado hostil (sic).
E chegamos à guerra. Os historiadores eventualmente virão para registar o dia 8 de Agosto de 2008 como um ponto de viragem não menos importantes do que o 9 de Novembro de 1989, quando o Muro de Berlim caiu. O ataque da Rússia à soberania do território georgiano marcou o regresso oficial da história ao séc. XIX, ao estilo das grandes potências, complementado por nacionalismos virulentos, onde se batalhava pelos recursos, por esferas de influência e por território e até mesmo o uso do poder militar para obter objectivos geopolíticos.
A fronteira entre a Geórgia e a Rússia tem sido um pasto seco, onde a única questão que restava era a de saber onde e quando o fogo teria início. A história da Geórgia é um registo contínuo de submissão ao superior poder russo. Ameaçada pela expansão do império persa, em 1783 os georgianos aceitaram formalmente a protecção da Rússia, que terminou em 1801 com a anexação efectiva. No caos da Revolução Russa a Geórgia conseguiu recuperar a sua soberania. Os georgianos eram "Mensheviks" - sociais-democratas, na verdade - e por três anos beneficiou de um dos governos mais progressistas do mundo. O governo "Bolchevique" deixou-o viver durante três anos. Durante o longo período soviético a Geórgia funcionou como uma Riviera italiana para a Rússia, onde as elites tinham a sua amada "dacha" na costa do mar Negro da Abcásia. Ao mesmo tempo, Estaline, embora ele próprio georgiano, não absteve a Geórgia das sua purgas.
É verdade que iremos continuar a ter a globalização, a interdependência económica, a União Europeia e outros esforços de construção de uma mais perfeita ordem internacional, mas esta realidade vai competir cada vez mais com as "Rússias" dos nossos tempos e, por vezes, ser esmagada pela dura realidade da vida internacional.

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