O conceito de espaço alterou-se profundamente a partir do final do séc. XIX e acelerou para um ritmo de ficção científica a partir da segunda metade do séc. XX. na base dessa transformação está a evolução dos meios de transporte, que alteraram a forma de medir o espaço das tradicionais medidas métricas para a medição pelo tempo. Hoje ir do Porto a Lisboa não são 300 km, mas sim duas horas através da A1.
De entre todos meios de transporte o automóvel continua a ser o mais democrático e com maior sucesso junto dos utilizadores. E com esse sucesso o tráfego adensa-se, apesar da cavalgada meteórica dos preços dos combustíveis. Nesta "metropolis" de Fritz Lang em que vivemos, existem uns "master puppets" que ignoramos, mas que são isso mesmo mestres que nos manuseiam no dia-a-dia. Falo dos engenheiros de tráfego.
Alguma vez pensaram na existência desta profissão (tirando aqueles que o são e os rodeiam)? Muito dificilmente conseguimos nomear um desses engenheiros (a título de curiosidade deixo dois para ilustração: o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, Nuno Cardoso, e o actual presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad), contudo são eles que nos fazem permanentemente parar, avançar, acelerar, abrandar, comportando-nos nós como seguidores hipnotizados pelos seus esquemas entrelaçados de gestão do tráfego.
E neste caso não vale a pena rebelar-nos. Aliás nem sequer nos passa pela cabeça tal tonteria. Todavia, não seria pior sermos mais exigentes na nossa crítica aos esquemas ardilosos que nos montam. Ou seja, a maior parte das regras de trânsito são imbecis, logo o comportamento dos automobilistas é esmagadoramente imbecil (por que raio é que existe um sinal a indicar que existe uma passagem de nível, quando ela é perfeitamente visível?!). Desta forma, estou e crer que a responsabilização dos condutores aumentaria se os passassem a tratar com maior inteligência, que os pusessem a raciocinar na estrada em vez de os conduzirem como se de uma manada se tratasse.
Contudo, no pior dos cenários (e eventualmente o mais real) a situação seria ainda mais caótica, pois o exercício da cidadania e o raciocínio lógico são bens escassos, como tão bem interpretou Nietzsche. Assim sendo, não será pior continuarmos silenciosos nos nossos casulos automobilizados, ignorando sabiamente que todo o fluxo de trânsito é orientado pelos senhores engenheiros.

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